domingo, 15 de novembro de 2009

Ribeira de Eiras


A minha ribeira, a par de tantas outras que existem pelo mundo fora tem para mim um encanto como tem para outros a ida ao futebol, à caça ou outra actividade que lhes dê prazer. Perde-se no tempo, a ligação dos homens com os cursos de água, porque era aí que passavam grande parte das suas vidas, a construir e reparar "levadas"( canais construídos a montante dos rios que por gravidade chegavam às suas hortas, e aos moinhos)a regar, moer o pão, moer a azeitona... As mulheres, com os filhos ao colo e pela mão, além do cesto de roupa à cabeça, seguiam o mesmo caminho e enquanto eles se dedicavam aos trabalhos agrícolas, elas davam a brancura possível à roupa, tomavam conta dos filhos e preparavam a refeição. Nos poucos dias possíveis a família fazia romaria à ribeira, mas agora para se divertir com os mais pequenos a brincar na água, os mais velhos a apanhar barbos, bogas, enguias etc. Era dia de comer os delíciosos peixinhos da ribeira , à mistura com uns passarinhos apanhados nas "costelas" pelos especialistas do grupo. Era a alegria possível numa vida dura que não dava tréguas. Mas alguém tinha que trabalhar: a testemunhar isso lá estava a roupa lavada a secar, em cima de juncos, fruto do trabalho de alguém que se divertiu menos, mas que mesmo assim era melhor que ficar em casa, pois o convívio familiar era escasso , o trabalho diário de cada um só terminava quando o sol se punha, vinha o cansaço, luz eléctrica não havia. Há que deitar cedo para cedo erguer. Era imperativo continuar a rotina, não dava para mais.
Por favor não estraguem a minha ribeira.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009


Morreu Raul Solnado. O melhor entre os melhores, cresci e envelheci a ouvir as suas graças. Todos achamos ter sido uma inevitável perda. Certamente que quando morreu António Silva outros pensaram o mesmo. E Chaplin também. O humor português levou um rude golpe, não se vislumbra nos bastidores seguidores à altura. Os humoristas de agora enveredam por outras piadas mais ousadas e sofisticadas. Talvez seja a idade a julgar o humor, mas penso que não, porque auscultei as opiniões e sei que não estou só. Todos podem tentar ser humoristas, mas não o é quem quer, é o quem nasce com esse dom e o exerce com humildade.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Pescadores de Guidintesta


Desde sempre que a pesca é uma arte de sobrevivência na"Freguesia de Belver". A partir de 1947, data do início da construção da barragem, os métodos mudaram e os locais piscatórios também. Os pescadores e suas familias lá se adaptaram e continuaram numa luta diária pelo seu sustento. Durante 60 anos, lá foram pescando lampreias, sáveis, savelhas, sabogas, muges, bogas, enguias etc.. que para muitos são iguarias e para outros seu sustento. Mas a luta agora é outra! Com a construção do dique insuflável de Abrantes a situação mudou: o peixe não consegue subir a demasiado íngreme obstrução, para chegar às redes de quem tanto precisa de o apanhar.
Mas o que se passou? Certamente houve um Estudo de Impacto Ambiental e com a presença de técnicos especializados também e... não viram o erro! Será que de futuro, sempre que se projectem grandes obras, além de arquitectos, doutores, engenheiros e ambientalistas, se devem incluir também a presença obrigatória do zé pescador ou do zé agricultor ou outro zé pagante qualquer? Claro que, se houver boa vontade, a situação pode ser remediada, mas, até lá (que será sempre tarde) os interessados no projecto aprovado vão sacudir a água do capote e dizer que foi aprovado pelas entidades competentes. E os pescadores da zona ( os poucos que resistiram) têm que se deslocar dezenas de quilómetros rio abaixo para conseguir o magro sustento.